Mensagem

A mensagem de que ia ter um corre correu pra todo lado. "Amanhã vai ter corre".

VITÓRIA DO POVO

Alexandre Flach

12/23/20242 min read

"Corre amanhã. Começa na escada da Lapa"

A mensagem de que ia ter um corre correu pra todo lado, de tudo que é jeito. Amanhã vai ter corre. Quem vai? Tem gente que não quer ir, mas a maioria quer e vai. Dá pra aguentar mais não. Tamo junto no corre. É amanhã. E o povo desceu forte. Quando a polícia percebeu, já era. Tinha mais de... sei lá... 10 mil? De repente era isso. Tinha mais gente do em dia de jogo. E quanto mais gente tinha, mais gente chegava. Os comércios tudo tentavam fechar correndo, mas não davam conta. A gente arrebentava até porta de aço. A polícia prendeu meia dúzia. Atirou bomba. Veio caveirão e tudo. Mas a gente tinha nossos berros também. E pior que quanto mais a polícia fazia barulho, mais gente chegava no corre. E era moto pra todo lado. O que os motoqueiros conseguiam carregar, já levavam tudo lá pra cima, nos morros. O mais era comida. Mas não era só isso não. O povo queria pegar era tudo: celular, computador, roupa, até dinheiro de caixa eletrônico, que a gente explodia na bomba. O que desse pra carregar, era isso mesmo, subia pro morro. Até arma tomada da polícia já subia tudo. Chegava lá em cima a gente dividia. Lá não tinha mais como a polícia chegar. Nem helicóptero tinha coragem de chegar perto. Era bala na certa! Por isso lá a gente dividia tudo pra todo mundo com calma. Pra falar a verdade, nem era dividir. Era chegar e pegar o que quisesse. No meu morro mesmo, tinha tanta coisa que dava e sobrava pra todo mundo. No fim, o povo só queria saber quando ia ser o próximo corre. Todo mundo sabia que quando desse na telha, era isso mesmo, a mensagem aparecia e aí já era.

Mas tinha gente que olhava torto. É que tem o tal do "trabalhadô”, vocês estão ligado, né? O sujeitinho que GOSTA de ter patrão. De entrar na empresa dos caras e ter sua carteirinha assinadinha. Sorte que esse é minoria. A gente zoa eles: são os meninos do Lula. Gostavam do Lula mas não gostavam da gente não. Acham que a gente é tudo bandido ou vagabundo, que a gente não gosta de trabalhar. Trabalhar de escravinho a gente não gostava mesmo não. Sai fora! Melhor cinco anos que nem rei do que uma vida toda naquela merda de trabalho do caralho!

Os "trabalhadô" é esses que acha que quanto mais a gente desce o morro mais comércio fecha, mais empresa sai fora, menos emprego tem. Foda-se! Já não tem emprego mesmo a não ser pra meia-dúzia de baba ovo puxa saco! A gente quer mais que se fodam esses "trabalhadô" do cacete. Quanto mais a gente trabalha para esses patrãozinho filha da puta, mais eles crescem e aparecem contra a gente. Mais polícia eles pagam pra matar a gente. Mais a porrada come no nosso lombo. A gente quer mais é que todos eles tomem no cu mesmo, junto com os "trabalhadô".

E essa meia dúzia de trabalhadô ainda fica de x9 com a merda de milícia! Já entregou lá a casa do Robão. Pegaram as arma tudo e devolveram pra polícia. E o Robão teve que sair fora! Mas ele é esperto, eles não pegam ele não. Daqui a pouco vai é ter trabalhado amanhecendo com formiga na boca viu. E vão achar que é a gente. Lá em São Paulo tá do mesmo jeito. E lá ainda tem mais dessa praga de puxa saco de patrão.

Só que mesmo assim, em tudo que é lugar, cada mensagem que a gente manda, é mais gente que aparece.